segunda-feira, 8 de agosto de 2011


JAFA, O IDEALISTA
(Roberto de Araujo Setubal)

Na alvorada do dia 04 de agosto de 2011, fomos surpreendidos com a notícia do falecimento do colega e amigo JAFA.
A morte de JAFA causou comoção e luto em toda comunidade ceplaqueana, principalmente no âmbito do Centro de Extensão da Ceplac - Cenex e, também, na microrregião do Baixo Sul, no eixo Camamu/Valença, onde o mesmo exerceu papel relevante e exemplar na qualidade de cidadão, bem como na vivência profissional.
A cerimônia do seu funeral foi bastante prestigiada, demonstrando de forma inequívoca, o sentimento de pesar da sociedade municipal de Camamu, comparecendo grande número de pessoas, principalmente, aquelas oriundas da parcela nativista e rural, além, de expressiva presença de colegas ceplaqueanos.
Após a solenidade religiosa, tivemos vários pronunciamentos que realçaram os atributos e o comprometimento comunitário, do cidadão e servidor público JAFA.
O cortejo saiu do Kieppe Esporte Clube em direção ao Cemitério local, acompanhado por uma multidão de amigos e admiradores, para prestar o último adeus ao saudoso JAFA. 
A vida de JAFA foi originada em Canavieiras, em 01 de junho de 1954, mas, desde meados dos anos 70 (1974), adotou Camamu como comunidade de referência do seu ciclo vital.
A opção por Camamu é o ponto central em torno do qual gira o cidadão, o pai de família, o profissional e o político. Portanto, sob variados conceitos, JAFA pode ser considerado uma personalidade genuinamente camamuense.
JAFA, cujo nome de batismo era João Antonio Firmato de Almeida, descende de família simples, típica do ambiente social da velha e praiana Canavieiras, filho de Evilásio Firmato de Almeida e de D. Maria de Lourdes S. de Almeida.
JAFA fez o curso primário e o ginasial na cidade de Canavieiras e cursou o segundo grau na EMARC de Uruçuca, onde adquiriu o diploma de Técnico Agrícola, no ano de 1973. Na busca da ampliação do conhecimento, posteriormente,  graduou-se em Biologia.  
A seguir, em 1974 ingressou nos quadros da Ceplac, onde obteve o seu primeiro e único emprego. No cargo de Técnico Agrícola, fez breve estágio nos Escritórios Locais de Valença e Ubaitaba, depois, a partir de 23 de novembro de 1974 foi lotado no Escritório Local de Camamu, fazendo parte da equipe pioneira dos trabalhos de assistência técnica ministrados pela Ceplac no espaço territorial daquele tradicional município litorâneo do sul-bahiano.
Camamu foi o grande reduto da trajetória profissional de JAFA, todavia, aconteceram algumas interrupções nesse percurso funcional, a exemplo de uma ligeira fase de retorno para Canavieiras, e, da sua recente ascensão como Assessor do Cenex. Infelizmente, houve também uma etapa malsinada na vida pública brasileira, notadamente para os servidores públicos, quando o bravo e dedicado JAFA foi atingido pelo instituto da disponibilidade aplicado no Governo Collor, ficando afastado das suas atividades de junho de 1990 até abril de 1992. Em todos esses episódios, acontecia o seu retorno para Camamu. 
No caso de JAFA, a questão da idade cronológica é irrelevante diante de uma história pontificada de fatos importantes que marcaram indelevelmente, sua conduta profissional e o seu exercício de cidadania. Portanto, mesmo tendo chegado próximo a fase sexagenária (57 anos), mantinha sempre um grande elan, o estado de espírito cheio de jovialidade.
No campo profissional, JAFA desenvolveu um trabalho diferenciado, inclusive, lhe obrigando, em vários momentos, ao enfrentamento com o “status quo” predominante. É imperativo registrar o seu sacerdócio e as suas convicções na defesa do meio ambiente e da agricultura familiar. Enfim, a sua pregação e a sua prática, buscando a todo o tempo uma mudança de paradigma na ação institucional ceplaqueana, que proporcionasse uma transição do modelo tradicional produtivista para vertente sustentável, reforçando a necessidade de harmonizar as variáveis: social, econômica e ambiental.
JAFA em seu trabalho junto aos Quilombolas
Nessa perspectiva, deixou um legado valioso, através das múltiplas ações realizadas junto às comunidades dos pequenos produtores, dos assentados da reforma agrária e populações quilombolas. O que significa dizer, executava um extensionismo rural de inclusão e respeito a natureza.
Foi também, um semeador de conhecimentos, estimulou a formação de seguidores do seu ideário, construiu o conteúdo de uma cartilha de estilo técnico/didático, versando sobre AGROECOLOGIA, escreveu artigos sobre o aludido tema, participou de inúmeros cursos, palestras, oficinas e seminários.

Se todas essas bonitas e revolucionárias experiências de JAFA como técnico, pudessem ser contestadas serviriam para alimentar a dialética e o debate técnico. Contudo, na dimensão humana, JAFA foi uma figura admirável. Era disponível, extremamente solidário, abdicava de privilégios, porém nunca abriu mão de princípios e de uma rigorosa escala de valores ético-morais.
Ao longo de sua profícua carreira na Ceplac, não existiu nenhum fato que desabonasse sua idoneidade. Muitas vezes, enfrentou vicissitudes, mas, permanecia altivo, não tergiversava e se posicionava com firmeza na defesa de seus pontos de vista.
JAFA era um cidadão participativo, possuía ambições pessoais, inerentes a um homem normal, porém, suas ambições jamais se afastavam do desejo de ser útil à coletividade. Exerceu a militância política, sempre calcado nas premissas mais elevadas dessa nobre atividade humana, também foi precursor dos movimentos sociais e sindicais desencadeados pelos servidores da Ceplac na Região Cacaueira, na década de 80. Fez parte da fundação do Partido dos Trabalhadores – PT, na cidade de Camamu e ajudou na mobilização petista em diversas outras comunidades do sul da Bahia.
JAFA tinha os hábitos alimentares bem simples, quase monásticos, era vegetariano e alimentava-se em perfeita sintonia com os elementos naturais da nossa diversificada flora atlântica.
Na sua vertente familiar ainda em Camamu, manteve a postura de equilíbrio e construiu uma relação matrimonial exemplar com D. Zilda, sua dileta consorte. Esse enlace foi carregado de muita cumplicidade e companheirismo. Dessa união, nasceram três filhas: Jaqueline, Jamile e Janaina.
JAFA despediu-se da vida material, mas não da luta por uma Ceplac melhor.
A Ceplac e a sociedade regional precisarão muito do seu legado de cidadão e de servidor público, para elevar o padrão da nossa cultura institucional e social do nosso povo. 
Ceplac/Cenex, 05 de agosto de 2011

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